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Rádio Portal Gospel

 

 



SALAS DE CESSÃO CONTÍNUA

SALAS DE CESSÃO CONTÍNUA

 

             Houve uma época,  na que junto às salas de cinema de estreio, alternavam-se os de “cessão contínua”, onde se projectavam  dois filmes que já haviam passado  tempos atrás, pelas “salas de estreio”. Os de “cessão contínua” resultavam mais baratos e as suas salas não chegavam a alcançar a categoria  nem o mérito das outras salas, mas ambos, resultavam perfeitamente compatíveis, porque nos programas duplos se podiam ver filmes estreados  a temporada anterior e também algumas  outras, que com muitos anos em cima, a gente não teve a oportunidade de vê-las  no seu momento. As salas de “cessão contínua”, não só permitiam ver dois filmes pelo preço mais baixo que o dum filme  de estreio, senão que também vê-las um par de vezes numa mesma cessão. Daquela maneira, matavam-se  dois pássaros  dum tiro, porque ao facto de poder completar os detalhes que é costume perder quando se vê um filme pela primeira vez,  une-se a permanência na sala cinco ou seis horas, (situação nada despreciada no Inverno) que permite desfrutar das calorias  do aquecimento ausente na grande maioria dos lares portugueses.

            As salas de “cessão contínua” albergavam nas suas últimas filas a apaixonados namorados os quais, aproveitando os passes em que a luz se escurecia, intercambiavam determinadas mostras de afecto impossíveis de pôr em prática noutros ambientes.

             As salas de “cessão contínua” e com elas os filmes que repetiam estreio,  com o passo dos anos passaram a ser competência da televisão, onde entre duas horas de anúncios e tendo paciência se pode chegar a adivinhar o argumento de algum filme. Mas as motivações que leva-nos agora a ver os filmes são outras muito diferentes. O círculo, a través dos anos, chegou a fechar-se, devido ao admirável poder de adaptação  do que gozamos os seres humanos. Porque não trata-se  de sonhar  com poder viver histórias com as quais nos davam inveja os americanos, senão para incentivar a procura doutras realidades. A nossa maneira de vero cinema agora, passa precisamente por querer fugir das situações às que então só podia-se chegar em forma de ilusões, a través do filme.

            Na época da “cessão contínua”, o pessoal ficava obnubilado ao ver como os americanos dispunham de descomunais frigoríficos e enormes televisores; como os yanquis de quinze anos conduziam como se nada passara os potentes automóveis  dos seus pais; como os namorados tinham múltiplos  encontros nos hotéis ou para motéis de estrada , repetindo-se continuamente aquele quadro na qual o rapaz e a rapariga, ao pouco de conhecerem-se, pronunciavam aquela frase de “na tua casa ou na minha”.

            Ao desaparecer a ingenuidade que proporciona a conjuntura de contar com poucos anos somada à natural evolução dos convencionalismos ao seu uso, fez que as coisas começassem a ver-se doutra maneira. Doutra maneira mais próxima à realidade.

            O velo da imaginação chegou a mudar da miséria à opulência, da escassez ao consumismo. Hoje, todos aqueles sonhos que só uns poucos confiaram poder alcançar, já formam parte da nossa vida diária e a verdade é que a tempo passado se comprovou que a coisa não é para tanto.

             Para alguns, aquela propaganda de panfletos que se vendia nos filmes americanos, chegou a defraudar-lhes; enquanto  que para outros cumpriu as suas aspirações.

             De tudo houve, mas tanto a uns como a outros, assalta-lhes permanentemente a dúvida sobre aqueles ideais de celofane que nos vendiam. Ainda que à hora da verdade, o sonho americano não mudou; os que mudaram fomos nos, ao irmos incorporando aqueles guiões  de filmes com trinta a quarenta anos de atraso.

              Perdido definitivamente o candor, ainda hoje, ficam alguns que seguem admirando aqueles velhos filmes americanos, ainda que não deixem de reconhecer que a realidade lhes desbordou há muito tempo, porque agora as coisas se vêm doutra maneira. [26]