NO CANTINHO “TI TONHO”
Falar de António Colaço é algo assim como falar da família, ou ao menos, de alguém próximo ao teu c írculo de amizades. Porque António Colaço, resulta ser um tipo que te conhece, que nos conhece como ninguém e que nos retrata nos seus “comentários” entre amigos sempre que tem oportunidade para fazê-lo.
Por isso, um dia sim outro também, nos vemos relacionados nas suas palestras nas quais o Senhor António Colaço plasma como poucos, com a sua característica pessoal, o relato crítico do português médio. Esse é o motivo porque nos faz tanta graça. Porque, ou bem nos vemos fotografados nas suas personagens, ou nos mostra as entranhas do vizinho do lado, ou do político de turno, isso sim, com a sua faceta mais humana e por conseguinte na sua versão mais vulgar.
Não tenho o gosto de conhecer a António Colaço, gostava de conhecê-lo. Este tipo de pessoas, ademais de fazer-te rir facilmente, sempre conseguem ensinar-te algo que consegue mudar-te um pouco.
Há coisa de uma semana, tive a ocasião de assistir a uma palestra ou como queiramos chamar-lhe, com o Senhor António Colaço. Foi no seu restaurante “O CANTINHO DO TI TONHO” em Alcochete, onde ele a diário, com o seu habitual bom humor, se adapta com esquisita facilidade a qualquer conversação com os seus clientes, com o qual, sempre te ensina algo que chega a tocar o teu subconsciente. Nesta ocasião, para não perder o costume, me soltou uma reflexão que não sei se terá muita ou pouca graça, mas que não parece faltar-lhe um pouco de razão.
Falava-me da igualdade. Da igualdade que resulta para alguns e a desigualdade que prima para outros, quando comparamos aos portugueses de um e outro lado do mapa, incluindo aos críticos mais acérrimos da Madeira ou dos Açores. Com esta conversação, falou-me do uso generalizado que fazemos os portugueses, sem excepção, da expressão “já verás tu como…”
Porque, « vamos a ver», o dizem os transmontanos, os minhotos, os tripeiros, os lisboetas, os alentejanos, os algarvios, os açorianos, os madeirenses e demais famílias, se conhecem alguém que não faça uso desta expressão em muitas ocasiões. Por exemplo: quando nos avisam da oficina mecânica para dizer-nos que o carro está terminado às cinco. Quem de todos os portugueses, quando se dirige a retirá-lo, não vai comentando para si: “vais a ver como”… É que no fundo, resulta mais que evidente que não há nenhum português que chegue a crer que o carro está terminado à hora anunciada.
Mas há algo mais: e é o facto de que esta expressão não chega a existir apenas em Alemanha, Inglaterra, França e outros do continente europeu. Ou é que alguém escutou alguma vez esta frase em inglês ou alemão? Provavelmente porque nesses países, quando te avisa a oficina mecânica que podes ir a retirar o carro às cinco, é porque com a certeza que o carro estará terminado às cinco. Ou quiçá por outra coisa. Ou vá você a saber. Mas o facto, é que esta frase nos distingue doutros países europeus.
Mas ainda poderíamos ir mais longe. Algum de vocês que chegue a dominar algum desses idiomas que disse anteriormente, seria capaz de traduzir esta frase a algum deles? Porque, na opinião de alguns espertos, não há maneira de poder fazê-lo.
Ou seja, que não só nos une esta expressão, como nos distingue de outros cidadãos pertencentes a outras culturas europeias algo diferentes à nossa.
Por isso, não parece muito desacertado pensar que se tratáramos de rebuscar, buscando quais podem ser as diferenças riais entre os portugueses, os de cima, os de baixo e os do meio, poderíamos encontrar alguma surpresa. Porque provavelmente, poderiam chegar a contar-se com os dedos de uma mão, e muito possivelmente, quase com certeza, que os poucos que encontrasse-mos, façam parte de algum grupo descerebrado pertencente a algum determinado partido político sem raízes no território português.
Mas claro, isto não é mais que uma ideia minha, e como tal sempre poderá chegar a tomá-la com mofa. Por conseguinte, é de esperar que muitos não concordem com ela, se bem, muito provavelmente no interior de esses mesmos discrepantes, esteja a ponto de sair, antes ou depois, com toda a sua força, a conhecida expressão de “vais a ver como…”
17) Um tema escrito em Alcochete, manifestando a minha crítica a um dos muitos costumes populares por esta zona alcochetana. Um tema ecrito no ano 2010, tomando como suporte argumental o "Restaurante do Ti Tonho", um lugar dos mais requintados de Alcochete, aonde vagueia o fado, a simpatia e a excelente colinária da região.