AQUELA MÃE
Foi naquele 30 de Setembro do ano 1948, em que a minha mãe se me foi para sempre, mas nem por isso deixo um só momento de recordar-me dela; quanto mais tempo passa noto que mais falta me faz. Foi a minha mãe a pessoa que eu mais amei e sigo amando na vida apesar de ter as minhas filhas, os meus netos e a minha esposa a quem quero muito, ela era a minha vida, a minha luz, o meu tudo.
Recordo-te querida mãe com tanta ilusão, que algumas vezes te imagino junto a mim cobrindo-me de beijos, acariciando-me e quando todas as noites antes de deitar-te ias junto ao meu leito para tapar-me e dar-me as boas noites.
Por isso, quando te fostes, tinha eu apenas onze anos, o mundo caiu-me em cima e é que até o dia de hoje, não pude superar a sua perdida; para mim era a única, como para cada pessoa, a sua. Aquele dia o amanhecer foi amargo e o céu ficou sem luz nem estrelas, a casa da minha infância se derrubou para sempre.
A minha mãe, foi a mãe que sempre lutou até ao fim dos seus dias pelos seus filhos; toda a sua vida foi uma luta, uma dura luta contra a fome a miséria e a enfermidade. Naquele tempo, a riqueza dos pobres era a tuberculose, uma dádiva da natureza aos sacrificados pelas circunstancias, que deixavam de comer para satisfazer as necessidades mínimas dos seus filhos. Porque conheci e vivi a triste história da minha querida mãe, não chego a entender como há pessoas que não entendam que uma mãe dá tudo ainda que ela fique sem comer.
Por tudo isso, ainda que ela não esteja junto a mim para ouvir-me, seguirei dizendo que ela era o mais grande para mim.
Com este escrito quero prestar-lhe a homenagem que se merece, uma carinhosa homenagem à mulher, à mãe, à senhora, porque a minha mãe era uma senhora, que nos ensinou a ser boa gente, trabalhadora e honrada, a caminhar pela vida sempre com a cabeça alta apesar de sermos humildes e analfabetos.
Por tudo isto minha mãe, com o coração dolorido pela tua partida tão cedo, deixo neste escrito a minha dor. Não sei se desde as alturas celestiais aonde gozas do prémio ao teu proceder na terra, me escutas; de todas formas, me valho da fé que desde a minha infância me impuseste, e com ela, sou feliz homenageando-te, pois sinto no meu coração o latir do teu; fecho os olhos e entre Anjos te vejo ladeada de querubins… te vejo mâesinha e só vejo harmonia, música e arte.
16) Este tema foi escrito em Menorca no ano 1999 numa noite de verão à luz da Lua, no balcão da casa aonde vivia. Recordo perfeitamente aquela noite. A lembrança da trágica rotura matrimonial, a saudade afogando o meu coração e o silêncio da noite, somente rôto pelo mermúrio das águas do Mediterránio, me condiziram à sempre carinhosa figura da minha mãe, e com a sua lembrança, o meu espírito se engrandeceu e uma paz dulcificante, halagadora e confortante deu vida a este apreciado tema.