BUSCAM A PAZ, OS POLÍTICOS?
BUSCAM A PAZ, OS POLÍTICOS?
Todos desejamos a paz, mas não é prudente dizê-lo. Resulta que politicamente não é correcto nem útil.
Devemos falar de confrontamentos, de oposição e de insultos. O que ofende, ganha, essa é a teoria da vitória, de acordo com a experiência; sem embargo, escutamos palavras de acordo, de acção comum e de paz. Não o cremos. Dizem que a paz levaríamos ao fracasso, mas observamos tímidas piscadelas (estão de moda as piscadelas como nas zarzuelas) para ver se pode passar a paz.
Que pode sair da paz? Não haverá espectáculo, não haverão desfiles de triunfadores nem a retirada de vencidos; não haverá discursos dos divertidos soberbos nem obrigadas palavras suplicando (grande espectáculo) perdão sincero. Numa palavra, não haverá teatro.
E se a paz elimina o espectáculo e o teatro com o seu baú de disfarces, medalhas, nomes de ruas e multidões de desnudos, com que se divertirão as massas?... Suponho que as massas não se ofenderão porque se a paz estrague negócios milionários; o país cresce e igualam-se oportunidades.
O pior da paz é que diminuirá o tráfico de armas. Y horror!... Até os pais de família poderão eficaz e impunemente impedir que os seus filhos voem sobre nuvens das diabólicas drogas. Que falta de respeito aos menores e ao negócio!... Sobre tudo e para desprestígio da cultura do momento, há suspeita fundada de que com a paz também regresse o sentido comum já há muito tempo exilado das nossas ruas. Aonde vamos a chegar!...[7]