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Rádio Portal Gospel

 

 



REGRESSÂO DESORDENADA

REGRESSÂO DESORDENADA

 

                Como crente  de base, e por conseguinte, com todos os defeitos dum ser humano, quero expor a minha versão e não a minha verdade, porque a verdade absoluta não é património de ninguém, sobre o meu total rechaço a qualquer manifesto que implique o recorte da liberdade. Quero deixar claro, que reconheço o direito constitucional que todos os portugueses, incluindo os sacerdotes, bispos e demais hierarquia clerical, têm  para falar de política e manifestar as suas discrepâncias, mas não, para impor despoticamente os seus pontos de vista. Baseio as minhas discrepâncias nos seguintes pontos:

                Primeiro: Em geral, são os novos  movimentos ou seitas, que mais vociferam, como:  “Comunhão e Liberação”, Os Kikos, Os Legionários de Cristo, a Associação Católica de Propaganda, o Opus Dei , etc. etc..

                Por quê? Porque a todos estes movimentos se concede todo tipo de privilégios e a outros, como: Teologia da Liberação, com um importante número de mártires nas suas filas, que entregaram a sua vida pelos  pobres como o fez Jesus Cristo, Cristãos de Base, Redes Cristãs, as anatemizam? Creio que para muitos crentes, a coisa está bastante clara: como sempre, importam mais os diezmos que os pobres.

                Segundo: Os discursos e de maneira especial as ameaças eclesiásticas, não são de recibo. Se Cristo desse agora uma volta por este mundo, quiçá usasse o chicote contra os escribas e fariseus do nosso tempo. Dizem-nos entre outras coisas, que este governo está destruindo a Constituição e a Democracia em Portugal. De que Constituição e Democracia nos falam? Alguns deles e de maneira especial alguns dos seus predecessores, lutaram com todas as suas forças para que não se aprovasse referida Constituição,  pedindo aos católicos que votassem em contra.

                Terceiro: Dizem também que este governo está destruindo a família tradicional. De que família nos falam? Se é daquela de que desde tempos imemoriais, a mesma Igreja considerava à mulher como um objecto ou como um útero produtivo, não estou em absoluto de acordo.  Citarei alguns exemplos do que afirmavam alguns santos sobre a mulher. São António: “Qualifica à mulher como a besta e arma do diabo”.  São João Damasceno diz: “que a mulher é uma burra obstinada e um bicho terrível no coração do homem”. São João Crisóstomo diz: “soberana peste é a mulher, dardo do demónio”. São Boaventura diz: “a mulher é como um escorpião disposto a picar. É a pinça de Satanás”. São Tomás de Aquino diz: “A mulher só é necessária para a conservação da espécie. Considerada com a natureza particular; a mulher é algo deficiente e frustrado, já que a virtude activa reside no sémen do homem. Que é a mulher? Responde taxativamente que é um varão frustrado. E já para terminar, de acordo com algumas lendas, no Sínodo de Mäcon, se discute e alguns chegam a afirmar que a mulher não tinha alma”. Por certo, quando lhes vão a permitir ser sacerdotes? Jesus de Nazaret não o proibiu em nenhum lugar. É a família tradicional que reclamam, aquela em que a mulher não podia eleger livremente ao seu conjugue senão que eram os pais ou parentes quem obrigavam-nas a casar-se  com o que tivesse uns metros mais de terra? Querem impor de novo o direito da imposição?... Por favor!... sejamos um pouco sérios e façamos caso de uma vez por todas aos descobrimentos científicos que deitaram por terra todas essas teorias filosóficas e teológicas para saber que as células germinais (espermatozóides e óvulos) têm igual valor e por conseguinte, a mulher é tão normal como o homem.

                Quarto: Educação para a cidadania: A nossa Constituição, no seu artigo 27-1, diz: “Todos têm direito à educação. Reconhece-se a liberdade de ensinança”. Os Poderes Públicos promoverão a ciência e a investigação científica e técnica em benefício do interesse geral”. Por conseguinte e ao ser Portugal um estado laico como diz o artigo 16-3, os poderes públicos têm a obrigação de estabelecer as normas que  não sejam excluientes para ninguém, sejam da ideologia o religião que seja. Se essas normas Não cumprem a lei, serão os tribunais quem  devem abolir ditas normas.

                Quinto: Outro dos temas conflituosos da manifestação são os matrimónios entre pessoas do mesmo sexo às que durante muitos séculos foram tratados como pervertidos e martirizados por ordem de algum senhor bispo, como sucedeu em Barcelona há anos. Mas a ciência, uma vez mais tirou-lhes a razão e a nossa constituição à que os senhores afirmam agora defender, afirma textualmente: “O homem e a mulher têm direito a contrair matrimónio com plena igualdade jurídica”. E no artigo 36 diz: “A lei regulará as formas de matrimónio, a idade e capacidade para contrai-lo, os direitos e deveres dos conjugues, as causas de separação e dissolução e os seus efeitos”. Quem deseja destruir a Constituição aprovada no seu dia por crentes e não crentes?

                Sexto: Finalmente o tema do aborto. Quero deixar claro que a minha consciência em princípio, está em contra do aborto, mas nos três casos que a lei o permite, devemos respeitar o que a cada um lhe dite a sua consciência. Eu desde logo, se tivesse uma menina de onze anos e fosse violada por um desalmado como está sucedendo pela península, não duvidaria um instante em interromper esse embaraço.

                Porque não protestavam em tempos de Salazar, quando em Portugal não existia dita lei e somente as mulheres ou filhas dos ricos e caciques, que cada domingo se davam golpes no peito,  iam abortar ao Reino Unido? Como diz algum senhor bispo, “Não podemos perder a compostura nem viver amargurados ou com a amargura. Os Sacerdotes e os senhores Bispos,  devem superar com dignidade as dificuldades que encontrem na sua missão apostólica sem deitar as culpas a direitas ou a esquerdas”.

                Temos que aprender todos e ensinar “que a moral religiosa e a moral laica sustentam-se em razões distintas”. A moral religiosa vincula-se a uma ordem moral natural e em consequência, inalterável. A moral laica pelo contrário, não se sustenta numa racionalidade divina ou natural, senão na razão humana sem mais. Uma moral laica tem de fundamentar-se em razões compartidas e compatíveis por todos. Por isso há de ser uma moral de mínimos, que iluda tudo aquilo que seja susceptível de provocar divisões. Uma moral laica é aceitada por todos porque põe entre parêntesis as doutrinas religiosas que somente são válidas para os crentes.

                 Aparte das nossas crenças, temos que construir um ordem moral comum e uma forma de razoar compartida por todos.   

 

 

 

12) Este tema foi escrito em Zamora lá pelo anos 87 a 89. Encontrado entre os meus desorganizados papeis, o deixo bem guardado neste vosso site, para que sirva para algo a quém o leia com interesse.